O ex-ministro Sergio Moro saiu da sede da Polícia Federal em Curitiba, na noite de sábado (2), do mesmo jeito que entrou pelo portão dos fundos, num comboio de carros, longe dos jornalistas.

Sergio Moro foi ouvido por delegados e procuradores que vieram de Brasília. Ele chegou por volta das duas da tarde à Superintendência da Polícia Federal, acompanhado de um advogado. Foram mais de oito horas de depoimento.

Por conta do coronavírus, o depoimento ocorreu numa sala ampla onde todos usaram máscaras e ficaram afastados, seguindo recomendações das autoridades de saúde.

O depoimento de sábado (2) foi determinado pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, que autorizou a abertura do inquérito para apurar as acusações de Sergio Moro.

Semana passada, quando deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública, Moro disse que o Presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente em investigações da Polícia Federal.

A delegada Christiane Correa Machado, Chefe do Serviço de Inquéritos Especiais, comandou o depoimento, que foi gravado.

Fontes que participaram do depoimento ou que tomaram conhecimento de seu conteúdo disseram que a PF extraiu do telefone do ex-ministro as provas que ele já tinha exibido: a conversa em Whatsapp com o Presidente Jair Bolsonaro e com a deputada Carla Zambelli. Segundo essas mesmas fontes, Moro forneceu algumas novas provas, e principalmente, indicou maneiras de obter outras.

O Jornal Nacional revelou as conversas de Moro com o presidente e com a deputada no dia. Numa troca de mensagens, o presidente enviou a Moro o link de uma reportagem que diz: “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. Acompanhado da frase “mais um motivo para a troca.”

O presidente se referia à troca de Maurício Valeixo, ex-diretor-geral da Polícia Federal, indicado por Moro, que depois foi exonerado por Bolsonaro. Moro explicou ao presidente que todas as decisões sobre este inquérito eram do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Moro recebeu da deputada federal Carla Zambeli, do PSL, aliada de Bolsonaro mensagem que diz: “por favor ministro, aceite o Ramagem”. Numa referência à Alexandre Ramagem, que era candidato preferido de Bolsonaro para a PF, acabou sendo indicado para o posto, mas teve a nomeação cancelada pelo STF. Em seguida, Carla Zambelli sugere na troca de mensagens que o Moro aceite a indicação de Ramagem em troca da vaga no Supremo Tribunal Federal. Moro respondeu que não estava à venda.

Acusação de Moro “é fofoca”, diz Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (4) que a acusação do ex-ministro, de que ele tenta interferir na Polícia Federal, “é fofoca”.

O chefe do Executivo admitiu que, ao comentar a notícia do site Antagonista sobre uma investigação contra deputados aliados, escreveu que se tratava de “mais um motivo para troca” do comando da Polícia Federal.

Ao deixar o Palácio da Alvorada, Bolsonaro carregava uma papel reproduzindo o print do WhatsApp, revelado há dez dias no Jornal Nacional, da TV Globo, e confirmados pelo jornal O Estado de S. Paulo. Abaixo, estava escrito “Isso é Fofoca”, em letras vermelhas.

Ao ser questionado por uma apoiadora sobre o que era fofoca, Bolsonaro respondeu: “A acusação do Moro”.

“Tem um print do Antagonista. Eu escrevi embaixo “Mais um motivo para troca”. Estão me acusando por causa disso que eu estou interferindo na Polícia Federal. Estou dizendo que isso é fofoca. O complemento vem depois”, disse o presidente.

Nesta segunda-feira (4) Bolsonaro nomeou o delegado Rolando Alexandre de Souza para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal.

Bolsonaro e Rolando Alexandre

Ex-secretário de Planejamento e Gestão da Agência Brasileira de Investigação (Abin), Rolando é considerado “braço direito” do diretor-geral do órgão, Alexandre Ramagem, a primeira opção do presidente para chefiar a PF, mas que foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pela proximidade com família Bolsonaro.

Bolsonaro não falou sobre o depoimento de Moro e se recusou a responder a perguntas de repórteres. Aos jornalistas, ele voltou a mostrar a folha de papel. “Realmente eu escrevi isso embaixo. E estou dizendo que isso é fofoca”, disse.

A nomeação de Rolando feita por Bolsonaro nesta segunda-feira (4) teve forte repercussão entre a classe política brasileira.

O senador Randolfe Rodrigues (Sustentabilidade) considerou nomeação de Rolando uma afronta a decisão do STF que suspendeu nomeação de Ramagem por proximidade com a família Bolsonaro.

A ex-candidata à presidência Marina Silva criticou a escolha de Rolando para cargo da PF por ele ser considerado “braço-direito” de Alexandre Ramagem.

O ex-candidato à presidência Guilherme Boulos (PSOL) insinuou de que, com a nomeação de Rolando, Bolsonaro estaria mantendo a PF como “braço político”.

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